SÃO PAULO — Um dia após mais uma ação policial em região de Cracolândia, o secretário de Assistência Social de São Paulo, Filipe Sabará, enviou um morador de rua para São Luís do Maranhão. Segundo o secretário, que pagou pela passagem e divulgou a ação em vídeo, o indivíduo, identificado como Antônio, foi encaminhado para Unidade de Atendimento Emergencial (UAE) após ser “resgatado nas ruas após a ação contra o tráfico”. Em texto, Sabará diz que Antônio "foi presenteado com uma passagem para sua terra natal no Maranhão”. O prefeito João Doria (PSDB) afirmou não ver “nenhum problema” na situação.
— Estamos indo para a terrinha com dignidade — declarou Sabará a Antônio no vídeo, divulgado em rede social.
No vídeo, Sabará aparece conversando com Antônio em um carro, a caminho da rodoviária. O secretário escreveu, em complemento, que Antônio mudou-se para São Paulo em busca de oportunidades de trabalho, mas “acabou nas ruas e nas drogas”. O morador de rua também mostra um kit que recebeu da Prefeitura com escova de dentes, toalha e cobertores. Pouco depois, se despede da câmera em frente ao guichê de uma companhia rodoviária.
A prefeitura informou que o pedido para retornar ao Maranhão partiu do próprio Antônio. Sua mulher, que vivia com ele em São Paulo, retornou ao estado esperando um filho do casal. Sem dinheiro para viajar e vivendo nas ruas, ele teria pedido por ajuda em dos containers espalhados pela gestão Doria próximos da nova cracolândia. Segundo a prefeitura, Antônio era consumidor esporádico de álcool e drogas.
— Essa pessoa pediu explicitamente que gostaria de voltar à sua terra, o Maranhão. Não há nenhum problema, diante das circunstâncias, já que a secretaria de Direitos Humanos, assim como a de Assistência, têm esse programa segundo o qual, diante da solicitação, seja fornecido o bilhete para o retorno à sua cidade e sua região de origem. Se elas pedem, não há nenhum problema em atender a solicitação. O que não deve ser é forçado, estimulado ou induzido — afirmou o prefeito João Doria nesta terça-feira.
O programa mencionado por Doria é previsto pela Secretaria Municipal de Assistência de Desenvolvimento. Chamado "Núcleo do Migrante", oferece transporte interestadual e intermunicipal para pessoas e famílias migrantes em “situação de risco pessoal e social”. Segundo a prefeitura, o serviço destina-se a pessoas de fora do município que “encontram-se na cidade sem referências, por período não superior a 03 meses”. No entanto, Antônio não foi encaminhado ao programa, com o pagamento da passagem apontado como ato isolado do secretário Filipe Sabará.
No domingo, uma ação conjunta entre prefeitura e governo na Praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, expulsou da área o chamado “fluxo” e destruiu barracas de lona que supostamente acobertariam o tráfico de drogas. A prefeitura alegou ter realizado 53 internações voluntárias após a operação. Poucas horas depois, no entanto, o comércio de drogas já operava no local.
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